David Arioch – Jornalismo Cultural
Jornalismo Cultural
Sobre a dor das plantas e o veganismo
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Por causa de veganos e vegetarianos que campanhas a favor da preservação da natureza são encampadas
Uma das imagens que mais tenho visto compartilhada por pessoas que não são vegetarianas ou veganas é uma que induz à ideia de que as plantas sentem dor. E isso curiosamente, embora até então não tivesse nenhum respaldo científico, hoje vai ao encontro de uma matéria controversa e de interpretação variegada publicada pela Deutsche Welle, na Alemanha, envolvendo um trabalho de pesquisadores do Instituto de Física Aplicada da Universidade de Bonn.
Embora o título da matéria, também veiculada no Brasil e em Portugal, dê a entender, logo no título e na linha fina, talvez como chamariz, que as plantas sentem dor, o próprio trabalho informa que não é bem assim. O estudo, encampado por cientistas da área de física aplicada, não de biologia, é baseado em sinais de comunicação, e responder a um sinal de comunicação não é atestado de sensibilidade.
Ainda assim, não deixa de ser um trabalho relevante quanto à captação e transmissão de estímulos. Porém, se pensarmos nos animais, já foi provado que eles têm sensibilidade inclusive superior à humana pelo fato de serem incapazes de racionalizar as próprias emoções. Logo eles sentem dor, e muita, algo que é provado independente da ciência.
Mesmo usando o método acústico-etileno, os pesquisadores alemães também não conseguiram provar que plantas têm sentimentos. Já os animais, sabemos que sim. Ademais, animais têm vida social complexa como as dos seres humanos, basta ver a forma como eles se relacionam com seus filhos.
Além disso, é um equívoco muito comum alguém crer que veganos e vegetarianos não atribuem valores às plantas. Muito pelo contrário. É justamente por causa de veganos e vegetarianos que muitas campanhas contra o desmatamento e a favor da preservação da natureza são encampadas. Ninguém combate mais isso do que pessoas que se recusam a consumir alimentos de origem animal, já que a destruição da natureza hoje em dia está mais relacionada à crescente destinação de espaço para a criação de animais e produção de ração.
Conversando sobre esse assunto, dias atrás um amigo me perguntou o que eu faria se hipoteticamente fosse provado que as plantas sentem dor. Bom, eu continuaria trilhando meu caminho, já que um vegano precisa de uma área 18 vezes menor para se alimentar do que quem não é. Minha prioridade é proporcionar o menor impacto possível aos seres vivos enquanto eu viver, e vou me adaptando às novidades sem problema algum. Jamais desconsiderei a importância das plantas. Penso que tudo que compõe a natureza é belo e essencial à sua maneira, independente de níveis de sensibilidade.
Comentei também que acho um grande erro qualificar um vegano como elitista ou elitizado, porque acredito que é exatamente para não parecer assim que muitos aderem ao veganismo. Considero até uma contradição chamar um vegano de elitista. No meu caso, tento viver sob o princípio da igualdade – não me sinto superior a nenhum animal. Por isso optei por não me alimentar deles. É um estilo de vida que condiz com a minha essência, e não falo só de valores morais e éticos. Acredito que muitas pessoas já nascem para o veganismo, mas muitas vezes só descobrem isso muito tempo depois, quando notam ou sentem os sinais que os levam para esse caminho.