Sou vegetariana por amor aos animais

Sou vegetariana por amor aos animais
COLHER OU MATAR, a escolha é sua

"Se os matadouros tivessem paredes de vidro
todos seriam vegetarianos."

(Paul e Linda Mc Cartney)



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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

10 alimentos ricos em cálcio que (ao contrário do leite) fazem bem para nossos ossos

 A indústria do leite é infinitamente cruel para os animais
Bezerrinhos machos são separados de suas mães , nunca verão a luz do sol e são mortos aos 4 meses em estado de fraqueza extrema. Não se movimentam, não podem correr, nem brincar, só para que os humanos comam a sua rósea e macia carne, o baby beef, literalmente carne de bebê.
E as vacas vivem um holocausto sem fim até que, não servindo mais para dar leite, esgotadas, vão para o abate.
É triste demais o que o ser humano faz com os animais da indústria da carne e do leite


Durante muitos anos, acreditou-se que consumir leite era uma boa forma de garantir a ingestão de cálcio e ter ossos fortes — muito por causa de fortes investimentos em marketing promovidos por essa indústria milionária.

Porém, importantes descobertas na última década têm mostrado justamente o contrário: o leite pode aumentar tanto o risco de câncer quanto — pasmem — a incidência de fraturas ósseas e de osteoporose!

Países em que os produtos lácteos não fazem parte da dieta tradicional, como Japão e China, possuem duas das menores taxas de osteoporose do mundo. Por outro lado, Estados Unidos, Canadá e Austrália, os maiores consumidores de laticínios, possuem as maiores.

O consumo de leite também está relacionado ao aumento do risco de câncerproblemas cardiovasculares e respiratórios.

Isso para não falar na exploração de vacas para a produção de leite, que é uma das piores formas de crueldade contra animais.

Se você achava que os laticínios eram a principal fonte de cálcio possível em uma dieta, está na hora de rever esse conceito. Vamos te mostrar 10 opções vegetais riquíssimas nesse nutriente:

1. Soja 277 mg de cálcio a cada 100 g do alimento. Vale lembrar que a soja é um problema ambiental por ser amplamente usada para a alimentação de animais que posteriormente são abatidos para a produção de carne e outros produtos de origem animal. No Brasil, apenas 16% da soja é usada para alimentação de humanos.


2. Feijão-branco 240 mg de cálcio a cada 100 g do alimento. Lembre-se de deixar os grãos de molho na água em temperatura ambiente por pelo menos 8h e depois descartar a água antes de cozinhar. Dessa forma, eliminamos grande parte do ácido fítico, que é um composto presente nos feijões que pode prejudicar a absorção de alguns minerais como o ferro, cálcio e zinco.


3. Cereal matinal de milho Dá para acreditar que esse produto super popular e acessível tem 143 mg de cálcio a cada 100 g do alimento? Consumindo com um leite vegetal, você pode até triplicar a quantidade de cálcio ofertada na refeição!


4. Folhas escuras Por essa ninguém esperava, mas a cada 100 g de rúcula consumimos 117 mg de cálcio. Outras folhas ricas em cálcio são a couve (131 mg de cálcio a cada 100 g do alimento), a mostarda (68 mg a cada 100 g do alimento) e a acelga chinesa (105 mg para 100 g do alimento).


5. Gergelim Sementes de gergelim apresentam 825 mg de cálcio a cada 100 g do produto. Uma boa fonte complementar de cálcio que pode ser facilmente utilizada salpicando em pães, saladas e sopas. O gergelim também pode ser consumido na forma de tahine, aquela pasta bastante usada na culinária árabe, que possui 960 mg de cálcio a cada 100 g do produto.


6. Chia São incríveis 631 mg a cada 100 g da semente. Além do cálcio, a chia é uma ótima fonte de ômega 3 e 6. Duas colheres de sopa por dia é o necessário para atingir as necessidades diárias desses ácidos graxos tão importantes.


7. Grão-de-bico Super versátil, saudável e delicioso, ainda é uma ótima fonte de cálcio: são 114 mg a cada 100 g do alimento. Além do cálcio, o grão-de-bico é rico em triptofano, um aminoácido que ajuda a trazer sensação de prazer e bem-estar.


8. Brócolis 86 mg de cálcio a cada 100 g do alimento. O brócolis é rico em cálcio de boa biodisponibilidade. Absorvemos 61,3% do cálcio presente no brócolis, enquanto essa absorção é de 32% no leite de vaca.


9. Quinoa 47 mg de cálcio a cada 100 g do alimento. A quinoa é um alimento super versátil e pode ser consumido tanto em grãos quando em flocos ou farinhas. Consuma em frutas ou vitaminas e agregue mais nutrientes aos seus lanches!


10. Ervas secas A gente sabe que não dá para comer ervas em grande quantidade. Porém, pela grande concentração de cálcio nesses temperos, eles podem ser usados como fonte complementar — e ainda dar um gostinho especial para os pratos. O manjericão seco é o campeão: cada 100 g possui 2240 mg de cálcio (o manjericão fresco possui bem menos, 211 mg). O tomilho e o alecrim seco também são boas fontes do nutriente, com 1890 mg e 1280 mg a cada 100 g, respectivamente.

A maior parte desses alimentos tem mais cálcio do que os laticínios: a cada 100 g de leite, são 123 mg de cálcio.

Para manter bons níveis de cálcio, a especialista em nutrição vegetariana Bruna Nascimento dá algumas dicas. Alguns dos "truques" incluem usar ervas como fonte complementar de cálcio e consumir produtos probióticos e integrais para manter a flora intestinal saudável e potencializar a absorção dos nutrientes.

"É importante manter bons níveis de vitamina D, que é um hormônio esteróide que age no controle dos níveis adequados de cálcio no corpo, na formação e reabsorção óssea", afirma Bruna. Ela também destaca que consumir sal em excesso e alimentos ultraprocessados ricos em sódio pode comprometer a absorção desse nutriente. "O sal é o fator que mais causa impacto na perda de cálcio pela urina. A cada 2300 mg de sódio excretado pela urina, são excretados de 40 mg a 60 mg de cálcio", explica.

Quer entender mais sobre a dieta vegetariana e saber como começar? Clique aqui para baixar nosso Guia Vegetariano gratuito.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Concurso Cultural : Caçar animal não é legal

Concurso ArteVista

Abertas as inscrições para a 2ª edição da Artevista: ‘Caçar animal não é legal’

Estão abertas as inscrições para a ‘2ª Artevista – Arte em Defesa dos Animais | Desenho e Pintura‘, promovida pela ONG Olhar Animal com o apoio do MICA – Movimento Infanto-juvenil Crescendo com Arte. O objetivo é estimular o respeito aos interesses dos animais não humanos e a ação em defesa desses seres, incentivando crianças e adolescentes a expressar, pela via artística, sua sensibilidade e consciência sobre o assunto. 
O tema da segunda edição da Artevista é “Caçar animal não é legal“, abordando um dos assuntos de maior destaque atualmente no Brasil entre as situações que causam danos aos animais, e também uma questão que os afeta em todo o planeta.
REGULAMENTO
O prazo para inscrições vai até 22 de maio de 2019 (horário do Brasil: UTC -3) .
Tema da 2ª Artevista
CAÇAR ANIMAL NÃO É LEGAL
Quem pode participar
Crianças e adolescentes residentes no Brasil ou em quaisquer outros países, nas categorias etárias abaixo:
  • 4 a 7 anos
  • 8 a 10  anos
  • 11 a 13 anos
  • 14 a 16  anos
Convidamos os professores a desenvolver o tema em suas escolas, junto a seus alunos. E convidamos também os pais a proporem a atividade a seus filhos.
Como participar
A inscrição é GRATUITA e poderá ser feita pelos autores, por seus pais ou responsáveis, ou ainda por seus professores.
Cada criança ou adolescente poderá inscrever quantos desenhos desejar.
Os desenhos deverão ser de autoria própria do inscrito, inéditos e feitos da seguinte forma:
  1. à mão livre sobre papel no formato A4 (210 mm X 297 mm), com gramatura compatível com a técnica escolhida. Finalizada, a obra deverá ser DIGITALIZADA com o uso de um scanner de mesa e em ALTA RESOLUÇÃO. Não serão aceitas imagens digitalizadas com o uso de aparelhos fotográficos, celulares, etc.;
    OU
  2. com o uso de ferramentas digitais (softwares e equipamentos específicos para este fim), de forma que também possam ser impressas em papel no formato A4 (210 mm X 297 mm).
Os arquivos de imagens enviados deverão estar em um destes formatos: JPG, JPEG ou PNG.
Caso o autor ou responsáveis encontrem alguma dificuldade para a digitalização da imagem, poderá solicitar orientações entrando em contato com o Olhar Animal.
Anexe as imagens digitalizadas das obras a uma mensagem de e-mail e nela inclua as seguintes informações:
Dados sobre o artista
Nome do artista:
Idade:
Cidade:
Estado/Província:
País:
Quantidade de obras inscritas:
Dados sobre o responsável
Nome do responsável:
Relacionamento: (  ) mãe/pai/tutor   (  ) professor(a)
E-mail de contato com artista ou responsável:
Finalmente, envie a mensagem para o endereço olharanimal@gmail.com. Em resposta, o Olhar Animal enviará uma mensagem CONFIRMANDO o recebimento das informações e das imagens. Caso o responsável pela inscrição não receba esta mensagem de confirmação, deverá entrar em contato conosco clicando aqui.
Não será permitida nenhuma forma de identificação do(a) autor(a) na obra inscrita. A identificação do(a) autor(a) deverá ser feita em separado, apenas na mensagem de inscrição a ser enviada para o Olhar Animal junto com as imagens.
Não serão aceitos trabalhos que tenham mais de um(a) autor(a) ou estejam em nome de pessoas jurídicas.
Observação importante: A organização da Artevista optou por receber e avaliar as obras sobre papel por via DIGITAL por conta das dificuldades impostas pelos Correios do Brasil para o recebimento de obras vindas do exterior, ele que passou a exigir taxas antes restritas a materiais de interesse comercial, o que obviamente não é o caso dos desenhos e pinturas. De qualquer forma, pedimos aos autores destas obras feitas sobre papel que PRESERVEM as artes criadas sobre papel para futuro envio, se solicitarmos.
Seleção
Serão selecionados como finalistas até 10 (dez) desenhos de cada um dos quatro grupos etários / origem (brasileira / estrangeira).
A escolha dos finalistas será feita por uma Comissão Julgadora formada por pessoas convidadas pela ONG Olhar Animal e pelo MICA – Movimento Infanto-juvenil Crescendo com Arte.
Critérios de avaliação
Os desenhos serão avaliados levando-se em consideração os seguintes critérios:
  • adequação ao tema ‘Caçar animal não é legal’;
  • originalidade;
  • estética;
  • atendimento aos requisitos do presente regulamento.
Para efeito de seleção, as obras serão divididas por origem (brasileira / estrangeira) e faixa etária, como indicado anteriormente.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

IMAGEM - Crônica de remorsos por não ter socorrido um gatinho...


IMAGEM
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Cecília Meireles
(Coleção Melhores Crônicas)
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O gato apareceu de repente na montanha. Era um pobre bichinho débil, que miava silêncio. Preto, parecia cinzento – de tão sujo. E, além de sujo, maltratado, com um olho desfazendo-se em gelatina, e uma orelha empapada de sangue. Olhou para mim tristemente, como nós às vezes olhamos para Deus . E eu, certamente, queria ajudá-lo .
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Mas então vi como aquele caminho deserto se fazia subitamente povoado; o espírito das superstições dizia-me : “olha que é um gato preto!” E o espírito da ciência murmurava-me : “Está cheio de parasitas, que te infestarão !” E esse vil espírito prático da era contemporânea aparteava : “Ademais, como podes ajudar, se estas num caminho deserto e sem recursos, onde não se avista nem um teto nem um veículo?” E só o espírito do amor segredava tímido: “Toma-o nas mãos e leva-o contigo ! Verás que, no teu colo, seus olhinhos lacrimosos se fecharão, adormecidos; sua fome se esquecerá, suas feridas fecharão ...” Mas o espírito do amor segreda com tanta timidez!
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Pela montanha deserta, descíamos os dois, e subia o vento.Pobre gatinho preto, de cauda arrepiada como uma escova de lavar frascos ! Manquejava também de um pé. Tão ralo tinha o pêlo que se lhe viam luzir as pulgas sobre os arcos das costelas. Na orelha machucada, o sangue secara-lhe como uma florzinha vermelha, muito escura.
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Tão grande era a sua urgência de socorro, que, embora trôpego, pequenino, doente, às vezes caminhava mais depressa do que eu. Ia esperar –me adiante, e levantava para os meus os seus olhos sofredores e o vazio miado, que era, a cada instante, como o seu último sopro.
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Mas, quando me via chegar, punha de lado a sua fadiga e o seu descanso, e recomeçava o caminho, com uma espécie de fé sempre renovada de peregrino que se dirige ao lugar da salvação .
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Na montanha , porém, não havia salvação nenhuma para quem padecesse de fome ou sede. A assembléia dos espíritos que me rodeavam buscavam pôr-se de acordo, sem satisfação: as pulgas eram inegáveis – dizia o espírito científico; o da superstição contradizia-se , de tão rico: às vezes os gatos pretos dão sorte ...; o espírito prático, o vil espírito de tempo, mostrava-me com uma clareza de relatório oficial que gasolina não existia, e a primeira venda devia estar, tanto para uma lado, como para o outro, a um bom quilômetro, pelo menos. Só o espírito do amor segredava que tudo isso eram conjecturas idiotas, e que devia tomar nas mãos o pobre bichinho abandonado e leva-lo sobre o calor do meu peito até um lugar qualquer onde o sentisse , afinal, protegido e consolado .
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E o gatinho trotava, ora atrás de mim, ora na minha frente. Parecia impossível que pudesse pular assim, tão magrinho, tão seco, tão altimoso. Mas pulava . Se não fosse o aspecto que tinha, dir-se-ia que brincava, que brincava como uma cavalinho caprichoso num circo de elfos. Umas duas vezes prendeu a perna no ralo da sarjeta. Daí em diante, fez-se mais cauteloso, evitando-as, quando as encontrava . E tudo isso dava graça à companhia, como quando se descobrem as novidades de uma criança. Mal, porém, se reparava no seu esqueleto no ofego de seu tórax, e naquela umidade de seus olhinhos nublados, vinha um aperto ao coração – eo grande céu , a verde floresta, o ouro do Sol derramando-se pela estrada, o mundo e as criaturas tornavam-se enigmáticos, ferozes e inúteis .
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O espírito do amor segredava-me, cada vez mais tímido : “Vê como tem acompanha. Como poderás dormir tranquila sem teres socorrido o miserável que pediu o teu auxílio?” E o espírito da superstição murmurava: “Isto é para que não te esqueças que deixaste de ser caridosa, um dia. Aqui anda uma aviso do ultramundo, sob a forma de um gato preto !” E o espírito científico replicava com uma insolência de dezoito anos: “Qual ultramundo ! Isto é apenas um gato sem casa, maltratado pelo vadios, e que vai atrás de ti por instinto, procurando alimento e sossego” . E o tal espírito prático se arreliava :”Onde estão os hospitais, para os bichanos que ninguém quer? Que há de fazer uma pessoa num caso destes? As pulgas estão ali, evidentes; a gasolina positivamente não está em lugar nenhum . Ninguém pode andar sempre com um sanduíche no bolso e uma garrafa de leite embaixo do braço .... E ainda esta carga de preconceitos morais ! ...” O espírito do amor segredava entristecido : “Não deixes teu coração endurecer com o que estás ouvindo ... Faze alguma coisa por este pobre animal que te segue arquejante. Lembra-te se algum dia fosse atrás de alguma coisa que fugisse, fugisse.... Reflete que algum dia poderás ir ...” E volvia o espírito científico: “Mas um gato, afinal de contas, não é gente. E o sofrimento do amor suavemente insistia ; “Tudo é um sofrimento só, de alto a baixo, na criação . Compadece-te desse que te acompanha, pequena coisa que o destino pôs no teu caminho, problema que o mundo inteiro está vendo como resolverá ...”
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Então, ao meio dos espírito sentei-me. E o gato parou diante de mim, com a hirta cauda par ao lado, uma orelhinha murcha, e outra em pé. Seus olhos chorosos não tinham voz humana : puro choro. E sua boca pálida arreganhou-se num miado sem som: piro bocejo. Aquietou-se mirando-me. E agora um velhinho muito velho, e malhado em lã cinzenta, lacrimejando de velhice e de experiência. Observava-me , sem dizer mais nada, sem pedir nada. Sua sombra não media um palmo; minha sombra não mediu um metro. A sombra das árvores era imensa e balançava-se no chão, misturando estrelinhas de ouro. Trinavam pássaros, algo e longe. A montanha subia, subia . Quanto caminho andado! E aquele pobre bichinho descera-o todo atrás de mim, tão magrinho, tão infeliz, alternando as perninhas trôpegas , e chamando-me com sua voz desaparecida .
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Por que não nascem entre as pedras arroios de leite par aos gatinhos abandonados? Ah! Irmão Francisco, os lírios andam vestidos de seda, e os passarinhos por toda a parte encontram grão que os sustente, mas os gatinhos, bem vês, não tem rato que se distraiam e o transeunte humano nem o poder socorrer nem explicar .
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Passará talvez um leiteiro com algum carrinho. Vai batendo uma sineta melodiosa como um anúncio de festa. E eu lhe direi: vende-me meio litro de leite para esse bichinho abandonado... E o leiteiro será como um pastor antigo, que sobe para a sua serra onde tem ovelhas peludas e mansas, e me dará leite e queijinhos brancos e tenros, que todos comeremos à sombra das árvores, numa intimidade casta de écloga. O gatinho se lamberá todo com uma língua novinha, rósea que nem coral, e sorrirá agradecendo, e terá forças para trincar aquelas pulgas que passam como miçangas pelas suas costelas, e depois, limpo e refeito, brincará, para vermos, de pegar a sua sombra, de saltar ao tronco das árvores ou de morder a ponta da sua própria cauda.
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E o leiteiro dirá: “Ide , senhora, que o levo comigo, para entreter os meninos da minha granja. “ E as árvores se inclinarão, cheias de pássaros e flores, e o gatinho irá pulando serra acima, enquanto o leiteiro, pra o divertir, cantará uma cantiga engraçada sobre a vida das ratazanas ...
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Mas o leiteiro não aparecia. Pensei que ele acabasse por adormecer ali sentado, pois seus olhos ficavam cada vez mais pegajosos e seu focinho de ancião freqüuntador de arquivos tomava um ar cada vez mais resignado e desistido. E eu lhe dizia: “meu amigo, não sei qual é a venda mais longe: se a lá de cima, se a lá de baixo... Como vais resistir a caminhar mais do dobro do que até aqui andaste?"
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E o espírito do amor implorava: “Toma-o no teu colo!” E lembrei-me da amiga que apanhou um gatinho assim à porta do cinema e levou-o para a casa de chá, escandalizando todas as senhoras enchapeladas que comiam sem fome, carregadas de balangandãs. E os espelhos em redor viram descer para o gatinho um doce das mil e uma noites, pura nata e massa folhada, onde a fome do desgraçado se perdia num delírio de suavidades brancas, num êxtase de manteiga e baunilha .
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Mas nenhum pássaro trouxe no bico o milagre necessário ao gatinho preto. De nenhuma árvore caiu esse milagre suspirado. Pedras, Sol, troncos, formigas. Nem água! – nem água brilhava em nenhuma rocha, nem se deixava ao menos ouvir no segredo das folhas ou das areias .
Então, o gatinho veio tocar-me os pés com humildade. Isto é o que mais me custa lembrar: a meiguice com que inclinava a cabecinha doente nos meus sapatos, como a perguntar-lhes: “Por que pararam? Levem-me a algum lugar! Não vêem que estou tão precisado, tão mortinho de sede e fome?”
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E levantei-me e recomecei a andar – triste pelo gatinho como pela infelicidade de um povo ou de um parente. E sem esperança de nada . E fui andando. E ele atrás de mim. E fazia cabriolas. E queria andar tão depressa, que até atrapalhava as quatro perninhas. E ia de olhos no chão, disciplinado, com um ar de funcionário submisso, mas de repente virara menino travesso, e dava pulinhos, logo perdia as forças e levantava a cabeça com boca suplicante e olhos dissolvidos.
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Nessa altura é que nos aconteceu uma coisa extraordinária: vinha subindo a montanha uma pessoa. E o pobre bichinho, que devia estar zonzo de canseira, confundiu os pés que subiam com os que desciam, e passou a acompanhar o transeunte inesperado.
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Veio-me então a saudade de perdê-lo. E a melancolia de lhe não ter dado nenhuma ajuda. Perguntei aos espíritos que me cercavam o que devia fazer. E um deles – não sei qual – me respondeu que talvez fosse melhor deixá-lo com o seu destino. (Devia ser o espírito prático, que é o mais covarde ...) E arrazoava: o passante podia levar consigo o sanduíche que me faltava... (Mas o espírito do amor, esse eu bem sei que ia chorando, dentro de mim, desconvencido e inconsolável.)
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E agora tenho a lembrança da montanha, poderosa, bela, virente, e, em seu flanco, a imagem do gatinho triste, como coisa para toda a vida.
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Primeiro, pensei que aquilo era apenas uma aventura curiosa, que esqueceria ao chegar à cidade .E aprecia estar esquecido. Mas esta noite sonhei com ele. Sonhei com o gatinho que já deve ter morrido, que morreu certamente àquela tarde mesma. E disse para a sua imagem: “Mas eu te amei antes de morreres ...” Depois, achei a frase idiota. Nem ao menos original. Parecia a última fala de Otelo.
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