Sou vegetariano desde
1993. O que me motivou não foi a minha saúde, mas o fato de que desde criança
amo os animais, e a manifestação de uma vida representa um grande milagre para
mim. Apesar de gostar muito do sabor, foi crescendo em mim a ideia de deixar de
comer carne pelo amor aos animais, até que durante o segundo ano de faculdade
finalmente tomei essa decisão. Na minha opinião, não me seria lícito anuir com
tanta violência apenas para satisfazer um apelo dos sentidos, sendo que fisiologicamente
não há essa necessidade e as opções de alimentação são inúmeras.
No prazo de um ano, parei
de comer carnes de porco e bovina, depois de alguns meses deixei de comer as
aves, e finalmente depois de alguns meses, parei de comer os peixes. Tudo o que
envolvesse tirar a vida de um animal, retirei do meu cardápio. Ovos e queijos
como até hoje.
Muitos dizem que ao parar
não sentiram nenhuma falta da carne. Eu, porém, durante 6 meses, tive uma
abstinência que acho que deva ser semelhante àquela das pessoas que abandonam
um vício ou hábito muito antigo, como cigarro ou bebida. Chegava a sonhar
várias noites que estava comendo a minha carne preferida, que era um rosbife
que minha querida avó preparava só para a noite de Natal, e então acordava
ainda com o sabor daquela carne a sumir na boca. Passados esses 6 meses, porém,
passou qualquer vontade de comer. Hoje, me dá até um certo ranço, em me
imaginar comendo um bife. Acredito que em condições normais, nunca mais
voltarei a comer carne, pelo menos nesta vida, foi uma etapa que ficou no
passado.
A maior dificuldade
quando tomei a decisão de parar de comer carne, foi unicamente, como quase em
todos os desafios nessa vida, vencer a mim mesmo. Minha mãe e meu pai, já
tinham se tornado vegetarianos, e apesar de nunca me forçarem ou sugerirem que
eu me tornasse vegetariano, a não ser pelo próprio exemplo, me apoiaram muito,
e no fim de semana, quando eu voltava para Piracicaba, eu tinha no almoço as
delícias que minha mãe preparava. Meus amigos, mesmo os mais churrasqueiros,
também me apoiavam e admiravam minha decisão, e o máximo que enfrentei foram
brincadeiras bem humoradas, que sempre renderam boas risadas – tipo, vou matar
um boi pro churrasco, e pra você mando derrubar uma árvore. Nunca deixei de ir
a um churrasco com os amigos – tendo pão e cerveja, para mim está muito bom. A
minha namorada na época passou a fazer comidas sem carne – talvez essa tenha
sido outra dificuldade que enfrentei, pois não gosto de alho e nem cebola - me
faz mal – e o primeiro prato que ela preparou, como uma surpresa especial para
mim, foi um macarrão repleto de alho e cebola – tive que engolir aos pedaços
inteiros, com lágrimas saindo do canto dos olhos, sob o
olhar atento dela e da então sogra, uma de cada lado a me perguntar a todo
momento se estava bom, e eu,
apesar da minha possível expressão, tendo que dizer que sim, para não magoar
sensibilidades.
Quanto a restaurantes e
supermercados, as opções são inúmeras e ilimitadas. Ser vegetariano não é ser
comedor de salada, nem comedor de soja (que inclusive como raramente e em
pequena quantidade), mas simplesmente não comer carne. Em todos os lugares que
fui sempre comi muito bem – mesmo em churrascarias, onde os buffets são sempre
muito fartos e um vegetariano come muito bem. Fisicamente, também não há
problemas, após todos esses anos pratico corridas, academia, e sou doador
regular de sangue, meu vigor físico está muito bom.
Já assisti um abate de
carneiros, na fazenda de um tio. É uma cena extremamente violenta, digna de
vídeo do Estado Islâmico, e acredito que a maioria das pessoas que comem carne
deixaria de comê-la se assistissem como são realizados os abates. Não que quem
realiza os abates seja mau, era um caseiro simples e pessoa boa, mas ocorre uma
insensibilidade que bloqueia a pessoa de perceber o sofrimento do animal que
agoniza. A retirada brusca de uma vida do seu corpo, durante o seu pleno vigor
físico, é ato de extrema violência e que chocaria a maioria das pessoas do
nosso convívio. É uma experiência que acho que todos deveriam assistir uma vez
na vida, para então ter todos os elementos necessários para decidir se
continuam a comer carne ou não.
Acredito que no futuro
mais e mais pessoas deixarão de comer carne, quando começarem a refletir a
respeito. Não sou militante vegetariano, acho que nesta vida tudo tem o seu
tempo, cada pessoa tem o seu momento, nesta ou em outra vida. As pessoas que eu
mais amo no mundo – minhas filhas – comem carne, e será uma opção delas se
tornarem vegetarianas ou não quando estiverem maiores, eu deixo apenas meu
exemplo. Minha esposa às vezes come carne, outros períodos deixa de comer. Eu
mesmo no tempo em que comia carne não gostaria que um vegetariano chato viesse
tentando impor seus argumentos – embora válidos – para mim, talvez surtisse efeito
contrário. Ninguém é melhor que ninguém só por ser vegetariano, - é só uma opção de vida! Mas no futuro da humanidade,
a minha crença é que uma alimentação sem violência será cada vez mais
prevalente. Se as indústrias da carne hoje estão sentindo a necessidade de
investir cada vez mais pesado em propaganda, é porque estão perdendo mais e
mais adeptos da carne. Em gerações passadas, seria uma coisa impensável uma
empresa gastar em propaganda dizendo que comer carne é bom – esse é um conceito
que estava arraigado na sociedade, e hoje cada vez mais está sendo revisto.
(Texto retirado da internet sem menção do nome do autor. Se alguém souber a autoria, entre em contato para darmos os devidos créditos)
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