Em 1854, o Governo dos Estados Unidos tentava
convencer o chefe indígena Seatle a vender suas terras. Como resposta, o chefe
enviou uma carta ao Presidente Franklin Pierce, que se tornou um documento
institucional importante e que merece uma reflexão atenta pois é uma lição que
deve ser cultivada por esta e pelas futuras gerações.
Decorridos quase dois séculos da carta do cacique
indígena Seatle ao Presidente do Estados Unidos, seus ensinamentos permanecem
atuais e proféticos, para todos aqueles que sabem enxergar no fundo do conteúdo
de sua mensagem.
A carta do cacique Seatle é uma lição
inesgotável de amor à natureza e à vida, que permanece na consciência de
milhões de pessoas em todas as partes do mundo. É o hino de todos aqueles que
amam a natureza e tudo o que nela vive. A cada leitura, renovamos os
ensinamentos que ali estão. Serve para ler e reler e passar adiante para que
todos a conheçam.
No Brasil, existiam em torno de 4 milhões de
indígenas, quando os colonizadores chegaram. Hoje, restam cerca de 300 mil!
Embora o indígena tenha contribuído de forma essencial para a miscigenação da
raça brasileira, é certo que foram sendo expulsos de suas terras pelos
exploradores e eliminados por doenças contraídas através do convívio com os
brancos.
Atualmente, continuam sofrendo a invasão de
suas terras por madeireiros, fazendeiros e garimpeiros, seus principais
algozes.
É fundamental que seja preservada a riqueza de
sua cultura, suas danças, ritos, conhecimentos sobre as plantas e animais e as
formas de viver em harmonia com a natureza. Os indígenas possuem uma sabedoria
milenar que precisamos aprender a cultivar e preservar.
A história dos indígenas em cada país onde
existiam, antes do homem branco, é diferente nas suas particularidades, mas no
seu conteúdo são iguais. Nos Estados Unidos ou no Brasil, os problemas
enfrentados pelos indígenas foram os mesmos. Daí esse sentimento de
solidariedade e cooperação que existe entre os diferentes povos indígenas e
essa sabedoria milenar da qual todos nós temos muito que aprender.
CARTA DO CHEFE INDÍGENA SEATLE
“O
ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo
sopro: o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece
que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há
vários dias, é insensível ao mau cheiro (...).
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de
comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem deve
tratar os animais desta terra como seus irmãos (...)
O que é o homem sem os animais? Se os animais
se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que
ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o
solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a Terra, digam a
seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas
crianças o que ensinamos às nossas, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que
acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo
estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a Terra não pertence ao homem; o
homem pertence à Terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas, como o
sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.
O que ocorre com a terra recairá sobre os
filhos da terra. O homem não teceu o tecido da vida: ele é simplesmente um de
seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala
com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível
que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos ( e o
homem branco poderá vir a descobrir um dia): nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês
podem pensar que o possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é
possível. Ela é o Deus do homem e sua compaixão é igual para o homem branco e
para o homem vermelho. A terra lhe é preciosa e feri-la é desprezar o seu
Criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo do que todas as outras
tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios
dejetos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão
intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por
alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem
vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos
os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios todos domados, os recantos
secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão
dos morros obstruída por fios que falam. Onde está a árvore? Desapareceu. Onde
está a água? Desapareceu. É o final da vida e o início da sobrevivência.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o
calor da terra? Essa idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o
frescor do ar e o brilho da água como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu
povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a
penumbra na floresta densa, cada clareira, cada inseto a zumbir é sagrado na
memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores
carrega consigo as lembranças do homem vermelho (...).
Essa água brilhante que corre nos rios não é
apenas água, mas a idéia nos parece um pouco estranha. Se não possuímos o
frescor do ar e o brilho da água como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu
povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a
penumbra na floresta densa, cada clareira, cada inseto a zumbir é sagrado na
memória e experiência do meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores
carrega consigo as lembranças do homem vermelho (...).
Essa água brilhante que corre nos rios não é
apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se vendermos a terra, vocês
devem lembrar-se de que ela é sagrada, devem ensinar às crianças que ela é
sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos
e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus
ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede.
Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos
nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos
irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que
dedicariam a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende
nossos costumes. Uma porção de terra, para ele, tem o mesmo significado que
qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo
de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a
conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados
e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se
importa (...). Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei. Nossos costumes são diferentes dos
seus.
A visão de suas cidades fere os olhos do homem
vermelho. Talvez porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há lugar quieto nas cidades do homem
branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera
ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e
não compreendo. O ruído parece apenas insultar os ouvidos. E o que resta da
vida de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate
dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não
compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do
lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos
pinheiros.”
Sabemos
que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção de terra, para
ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à
noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas
sua inimiga e, quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás
os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que
seria de seus filhos e não se importa (...). Seu apetite devorará a terra,
deixando somente um deserto.
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