16/02/2019
COMO É DIFÍCIL SER VEGETARIANO!
Milton Martins & Temas Livres
ESTUDOS INCENTIVAM MUDANÇAS NA ALIMENTAÇÃO COMO OPÇÃO AMBIENTAL
Meus caros, como é difícil ser vegetariano!
E vegano, então, aquele pessoal que não consome nada de origem animal, sequer o sapato e o cinto de couro.
Como é difícil!
Lembro-me com saudades de minha mãe. Um detalhe, todos os sábados, sabendo que eu almoçaria em sua casa, preparava o pescado a dore, bem passado, estalando.
Esses pratos se tornaram um padrão na minha vida por muito tempo.
Um dia, por uma série de influências e literaturas especializadas, fui deixando a carne de lado. Repugnam-me os açougues – quaisquer se que sejam os pedaços pendurados nos ganchos, um odor desagradável—e tenho muito dó das aves pelo modo truculento como tratadas antes e no abate.
Nunca vou esquecer como minha mãe as abatia. Naqueles idos.
Até elas se apegam.
As duas galinhas e um galo que apareceram por aqui, foram se aproximando esperando comida chegando à confiança de treparem no parapeito da janela.
Uma das galinhas desapareceu. A outra, tudo indica fora atropelada porque tinha que atravessar uma rua movimentada.
Essa galinha preta, antes de morrer não deixou de botar o ovo com todo aquele sacrifício da dor.
O galo foi levado para lugar melhor, mais seguro – perderia a liberdade das ruas perigosas pela garantia de sobrevivência—e ao ser capturado, se debatendo, preso numa caixa de papelão ouvindo a voz amiga teria respondido cocoricando preocupado com a possível “traição”.
Tenho mais coisas para contar sobre bichos. Coisinhas simples que me marcaram que não relato porque poderão parecer descabidas ao senso que predomina.
E depois, nestes últimos 40 anos ou mais tenho mantido luta renhida anticarne porque sei da crueldade que se dá principalmente com o abate do gado bovino.
Um dia, para registrar a gratidão uma vaca levantou a cabeça me encarando com aqueles olhos inocentes, após beber um balde de água que lhe ofereci e a seu bezerro, sob sol escaldante. Não havia árvores para se abrigar.
Rejeitar pratos preparados com carne em recepções sem poder explicar aos circunstantes ou mal explicar as razões.
Mas, vou sobrevivendo.
Na Fórum de Davos, realizado nos dias 22 e 23 de janeiro último foi divulgado um estudo da Universidade de Oxford no qual recomenda que a alimentação carnívora (bovina, principalmente) seja gradativamente substituída por outras opções de alimentos como carne sintética – produzida a partir de amostras de células de músculos animais que se expandem em laboratórios – tofu, lentilhas, nozes, jaca e uma gama imensa de outros produtos naturais não a base de carne.
A Universidade inclui até mesmo insetos, alimento comum em outros países, particularmente na China.
Ora, entre nós os insetos causam repugnância. Mas, eu fico aqui pensando no prazer de chupar ostras naquelas casquinhas in natura, para mim não menos repugnante.
Esse estudo atribui à produção da carne bovina, a porcentagem de 25% das emissões de gases do efeito estufa no todo do setor alimentar.
E, claro, à medida que o plantel aumenta, aumentam as áreas de pasto. A alimentação que avança sobre a mata não se dá apenas nas pastagens “naturais”, de gramíneas, mas também pela soja e seus derivados.
Quanto a mais na emissão de gases do efeito estufa, nessa parte da soja para o consumo do gado de corte?
As mudanças climáticas são visíveis: calor intenso, chuvas fortíssimas e vendavais, nevascas rara ou jamais sentidas nos países do hemisfério norte alterações graves que, pela linguagem do dinheiro, do imediatismo, não são levadas a sério e, de regra, desdenhadas.
No tocante ao consumo de água, dados confiáveis informam que, para obter um quilo de
Carne bovina – 15 mil litros
Carne suína – 6 mil litros
Frango – 3.9 mil litros
Queijo – 5 mil litros
Nota-se que o alimento de origem animal do ponto de vista ambiental é desastroso.
Um suplemento "Agro" do jornal “O Estado de São Paulo” de 30.01.2019 (*) a propósito do estudo da Universidade de Oxford ouviu dois especialistas brasileiros, o engenheiro agrônomo Maurício Palma Nogueira e Alexandre Berndt, este pesquisador de “sistemas de produção sustentáveis da Embrapa”.
Para eles, as emissões antiambietais seriam ou são dez vezes menores do que se dá na produção bovina em outros países.
Disse Berndt:
“No Brasil, em pastagens com o uso de tecnologias básicas, as emissões são 10 vezes menores do que as apresentadas no relatório”. E, se forem consideradas as fazendas com sistemas de produção pecuária de ponta ou as que fazem a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), o saldo de emissões de CO2 pode ser negativo.”
Esclarecem mais que a produção da carne bovina no Brasil é bem eficientea par do baixo preço cobrado por aqui, daí porque a troca da carne por outros alimentos não seria cabível ou necessária.
Eu acrescento, por enquanto...
A projeção se dá até os anos 2.050 quando a Terra teria 10 bilhões de habitantes (!).
Aumentada a produção do gado bovino de 4,5 arrobas por hectare (baixa) para 50 arrobas um objetivo “possível” numa linha de eficiência o Brasil poderia produzir, hipoteticamente, 130 milhões de toneladas de carcaça bovina, na mesma área de 165 milhões de hectares de terras hoje destinadas à pecuária.
E sempre a linguagem do dinheiro porque em 2018 as vendas de carne ao exterior registraram um recorde de 1,64 milhão de toneladas “volume responsável por uma receita de US$6,5 bilhões”.
Por fim, mesmo que repudiando o consumo de insetos, mas a cultura é a mesma quando se trata do desmatamento porque os países do denominado 1º mundo, após devastaram suas matas agora querem a preservação das matas do Brasil. Se aceitarmos esse “raciocínio distorcido”, cometeremos os mesmos erros desses países com graves repercussões ambientais.
Nesse sentido, disse Berndt:
“Eu não me sinto confortável que alguém de fora venha ditar regras para o consumo dentro da minha casa. Este é um costume cultural, e não vão conseguir impor a uma nação”.
Claro que eu não comeria inseto jamais embora haja alimentos tão repugnantes quanto.
Até 2050, quero destacar que aumentando ou não a produção bovina em mais de 1100% (de 4,5 arrobas para 50 por hectare), comendo insetos ou não está muito claro para mim que se não mudados os hábitos alimentares nos próximos anos, será a devastação florestal que garantirá o aumento de pastos para alcançar o tal “aumento” de “carcaças bovinas” para consumo internos e externo.
O clima será muito mais afetado nessa hipótese.
Não sou otimista. Diviso um estádio de caos no futuro impondo graves restrições de vida aos nossos netos e descendentes.
Quem viver, viverá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário