Pedro
Israel Novaes de Almeida
Aos
poucos, a humanidade vai perdendo parte de sua barbárie.
A preocupação com animais e aves,
assim como o cuidado com o meio ambiente, deixou de ser uma utopia vanguardista
para integrar currículos formais, e fazer parte da cultura e tradição de um
número cada vez maior de pessoas, até ocupar lugar de destaque em diversos
diplomas legais, inclusive nossa Constituição.
Outrora, animais eram imolados em
rituais que louvavam deuses raivosos, sedentos de sangue. Peles e penas eram
passaporte seguro a status valorizados, pouco importando a selvageria embutida
em sua obtenção.
A criação e manejo, inclusive o
sacrifício, de animais destinados a pesquisas científicas e fabricação de
vacinas, seguem rituais prescritos em normativos que buscam evitar a crueldade
humana. Circos, ainda que tardiamente, acabaram proibidos de utilizarem animais
em seus espetáculos.
Animais domésticos, como cães e
gatos, passaram a ser encarados como integrantes do complexo da saúde pública,
e alguns municípios, poucos, estruturaram órgãos que tratam de zoonoses, além
de gerir ou amparar iniciativas de adoção e asilo aos que se encontram em
situação de abandono ou maltratos.
Maltratar animais passou de
desumanidade a crime, sob severa condenação social. Agricultores e pecuaristas,
inicialmente vistos como avessos aos bons tratos e inimigos do meio ambiente,
aliaram-se aos novos tempos, e hoje a maioria deles pratica atividades
sustentáveis e a salutar convivência com os contemporâneos naturais.
Contudo, alguns nichos de crueldade
persistem, sustentados por poderosos e milionários interesses. O rodeio, que
fustiga animais, impondo-lhes desesperadas reações, ainda é aplaudido por
multidões, como de fosse prova de destemor e maestria o ridículo derrubar de um
indefeso bezerro, chegando, por vezes, a matá-lo.
Os rodeios, selvagens, são
inconstitucionais, não obstante receberem apoio dos poderes públicos, mormente
municipais. A alegação, já exaurida, de que geram emprego e renda, pode, com
igual mérito, ser aplicada ao tráfico de drogas, que movimenta milhões, em
cifras e pessoas.
Apesar de reprimida, a briga de
galos ainda é praticada, em centenas de rinhas Brasil afora, atraindo multidões
de espectadores sedentos pela cena de sangramento ou morte das aves.
Em matéria de respeito ao meio
ambiente e animais, progredimos, mas ainda estamos distantes da plena
conscientização. Numa sociedade que usa linhas com cerol, destrói monumentos
públicos, vandaliza orelhões e jardins, passa trotes em serviços públicos, não
joga o lixo no lixo, recebe diariamente notícias de corrupção e desmandos e
torna a violência cada vez mais banalizada, certos respeitos parecem
preciosismos.
A barbárie está diminuindo, mas
ainda é pouco.
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