Após sofrer maus-tratos e perder pata, vira-latas conquista jovens na zona norte
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JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Caso alguém decida fazer uma visita à escola municipal Romão Gomes, no Parque Novo Mundo, na zona norte de São Paulo, no período da tarde, vai ser recebido, em primeiro lugar, por um cão vira-latas de três patas batizado pelas crianças de Snoopy.
Todos os dias, com faltas eventuais apenas por questões amorosas, o cachorro aguarda os garotos Felipe Alves Nunes, 14, e Evandro Pereira Santos, 13, saírem do compromisso escolar para acompanhá-los de volta para casa, em um conjunto residencial Cingapura, pouco menos de um quilômetro dali.
O cachorro mora na rua, em frente ao prédio onde vive a dupla, e se alimenta graças à ajuda "de todo mundo que dá uma coisinha".
Felipe acredita que o chamego do cão com ele e com o amigo Evandro veio após eles terem dado "duas salsichas saborosas" ao bicho.
"Ele é meu melhor amigo. Reconheço o esforço que faz, todos os dias, andando 850 metros só para ficar me esperando. Retribuo brincando, jogando bola e fazendo carinho nele", diz Felipe.
HISTÓRIA DE AMOR
A história de amor entre Snoopy e os meninos começou há dois anos, antes de o cão ter sofrido a amputação devido a maus-tratos.
"O cachorro desapareceu por um tempo e todos na escola acharam estranho. Só ficamos sabendo de tudo o que tinha acontecido quando ele retornou à rotina, já sem a patinha da frente", afirma a diretora, Tânia Carmona.
Quando sumiu, Snoopy só foi encontrado após uma busca que envolveu estudantes e moradores do bairro. "Encontramos ele muito machucado. Ele me viu e parecia que pedia para eu ir embora porque queria morrer sozinho. Foi muito triste", lembra Felipe, estudante da oitava série.
VAQUINHA
Moradores e alunos fizeram uma vaquinha e conseguiram arrecadar o valor de R$ 2.000 para os cuidados veterinários emergenciais para o cachorro.
Em poucas semanas, o vira-lata sorridente -meio branco, meio caramelo- estava recuperado, mas tendo de conviver com uma deficiência: andar sem a pata esquerda dianteira.
"Para mim, ele ter só três patas não faz diferença nenhuma. Só no começo, que ele andava um pouco mais devagar, mas, agora, é quase normal. O meu amor por ele é igual", conta Evandro.
Apesar de os alunos conhecerem o cachorro "da portaria", poucos sabiam de sua saga, que só ficou popular após a publicação dos detalhes em um blog do colégio.
"A história do Snoopy é próxima da vida da gente, não é conto de fadas. Todo o mundo se emociona com a vontade dele de continuar vindo com os meninos", conta Giovanna Lemos, 12.
Snoopy também virou tema de exposição de cartazes feitos na escola. Os alunos descreveram em desenhos seus sentimentos pelo bicho.
UNIÃO
"O cachorro ultrapassou a função dos nossos projetos pedagógicos e mexeu com o emocional das crianças, que vivem uma realidade muito dura no bairro, muitas vezes de pobreza, de violência", declara Ana Paula Faria, professora de informática educativa do colégio.
O cachorro só sai da portaria durante o período de aula em três situações: quando vê um dos garotos na quadra de esporte e começa a latir em desespero, quando consegue driblar os funcionários para ficar babando na janela da sala de aula dos meninos e para acompanhar a dupla de volta para casa.
Para a assistente de diretoria Marisa Testone, os detalhes da história do cachorro "despertaram um sentimento de união entre os alunos".
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