Ivana Maria França de Negri
Há alguns dias desencadeou-se uma
imensa polêmica no Reino Unido, abrangendo toda a comunidade europeia, a
respeito de produtos que continham carne de cavalo em sua composição, mas eram
vendidos como produtos bovinos.
Os EUA se pronunciaram imediatamente
proibindo a importação de carne procedente dos países europeus acusados pelo “escândalo”,
como Alemanha, França, Itália, Espanha e Eslovênia, todos envolvidos no
impasse. Em cerca de 15 países da Europa foram suspensas as vendas de
almôndegas que acusaram a presença de carne equina.
Li várias reportagens e assisti na TV os
comentários de pessoas incrédulas e uma até confessando ter nojo do hambúrguer feito com carne de cavalo.
Será que os caros leitores já pararam
para se perguntar o que é feito dos cavalos velhos, dos burricos que puxaram
carroças a vida toda e depois, quando já muito debilitados, são abandonados ou vendidos
em leilões, bem baratinho? Ninguém nunca foi apurar o destino deles? Geralmente
são arrematados, o lote todo, por um preço irrisório. O que o comprador faz com
esse lote de cavalos velhos, doentes e maltratados? Duvido que vai lhes
proporcionar uma velhice tranquila, num pasto verde, com sombra e água fresca. As
pessoas não costumam fazer esse tipo de caridade, com raríssimas exceções.
A imprensa noticiou recentemente que
o nordeste iria exportar cerca de 300 mil jegues por ano para a China, num
acordo feito entre os governos brasileiro e chinês. Isto porque, esse animal foi
por muitos anos o único meio de transporte dos nordestinos, usado como montaria
e transportador de cargas. Inclusive, deve-se
a eles o desenvolvimento dessa região, pois era em seu lombo que levavam água,
madeira, cimento e pedras para construções. Com as facilidades do crédito, as
pessoas passaram a comprar motos e agora é nelas que transportam a água e os
materiais de construção. As motos são responsáveis pelo aumento do abandono de
jumentos que começaram a procriar em diversos locais. Alguém teve a infeliz
ideia de exportá-los para acabar com a “praga” e ao mesmo tempo, ajudar na
economia.
A finalidade seria o
aproveitamento do animal em experiências de laboratório na indústria cosmética,
e o abate para abastecer o mercado chinês que não tem limites quando o assunto
é proteína animal. Lá tem gosto pra tudo, desde carne de cachorro, de gato, de
macaco, a baratas fritas, isso mesmo, baratas e não batatas, para quem leu
rapidamente.
E penso também, que nunca investigaram de que material são feitas as salsichas,
mortadelas, linguiças e salames, embutidos de procedência duvidosa.
Em alguns países é cultural comer carne
de cachorro, e as pessoas aqui no Brasil ficam horrorizadas. Em outros lugares, é comum
o consumo de carne de avestruz, de rãs, até de macaco, sendo que aqui no
Brasil, a de gado é a mais consumida. Só que aos olhos do povo indiano, é um
sacrilégio, pois a vaca é um animal sagrado.
Como vegetariana de longa data, fico a
me perguntar, qual a diferença entre consumir carne de cavalo, de boi, de
coelho, de carneiro, de porco, de gato, de onça, de cachorro, de peixe, se tudo
é carne de animal, um pedaço cadavérico em decomposição?
Quem está certo? Quem está errado? Quem
está com a razão?
Não estou aqui para julgar nem doutrinar
ninguém, apenas expus os fatos para reflexão.
* texto publicado na GAZETA DE PIRACICABA
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