Ivana Maria França de Negri
É muito saudável sentir alegria, estar
entre amigos, divertir-se, paquerar, ouvir músicas e assistir shows.
Isso é o que faz a juventude frequentar
as Festas de Peão. Numa enquete realizada nas últimas semanas, foi perguntado
às pessoas se elas iam a esse tipo de festa por causa dos shows ou para
assistir às provas de montaria. Quase a totalidade disse que ia pelos shows e por
causa da alegria da festa. Muitos confessaram que ficam com dó dos animais e
que não faria falta alguma a extinção das montarias.
Os organizadores afirmam que os animais
são bem tratados. É claro que são! Como um boi mal alimentado e fraco pularia
com tanta energia? Alimentar bem um animal não quer dizer que ele não está
sendo judiado. Por que um boi, normalmente manso e pacífico, fica enlouquecido
numa arena?
Imagine-se no lugar dele. Você, um
animal preso num lugar minúsculo, sem poder se mexer. Uma turba gritando
ensandecida, fogos espocando, rojões, luzes, sinos, e você sem poder fugir e alguém
cutucando-o com uma vara com prego na ponta, outro puxando seu rabo com muita
força, outros apertando a peiteira em seus pulmões até deixá-lo sem poder
respirar além de esporas fincando seu ventre, cortand, ferindo. E sinta também a
tortura de uma tira de couro – sedém - fortemente amarrada em sua virilha
comprimindo os órgãos genitais. É claro que você iria saltar doidamente para se
ver livre do martírio! Mas os peões ironizam: são só 8 segundos!
Só que a realidade é bem outra. Os
treinos são diários, ininterruptos, longe dos holofotes e de qualquer inspeção.
Os muito feridos são descartados e substituídos.
A cidade de Ribeirão Preto decidiu suspender
as provas após liminar da Justiça que proibiu o uso de instrumentos que
caracterizariam maus tratos nas montarias. Não podendo usar nenhum instrumento
de suplício, não tiveram como realizar provas de rodeio. E acabou acontecendo o
Ribeirão Rodeo Music, festa que reuniu o mesmo público, mas sem montaria de
animais. A polícia esteve o tempo todo na festa para cumprir a decisão. Caso
resolvessem colocar algum animal na arena, não poderiam usar em hipótese alguma
os apetrechos, nem o sedém.
Esse tipo de evento tornou-se uma
indústria. Os apelos comerciais são intensos e quem não preza a ética,
patrocina. Criaram um falso glamour, e, mais uma vez, o povo vai na onda e paga
pra ver. E tome cerveja, esporas, laços, foguetório e baderna. Essas festas,
regadas a bebidas, quase sempre terminam em brigas e algumas, até em morte.
Assim como os circos sem animais sobrevivem,
esse costume bárbaro um dia também será abolido. E pela evolução natural dos
humanos, essa mentalidade selvagem tende a se modificar.
Até Nossa Senhora Aparecida inseriram na
festa como padroeira dos peões. Mas duvido que ela, símbolo da maternidade, do
carinho e mansidão, aprove.
A finalidade da luta desigual é provar
que o peão é “macho”, corajoso. Não importa se órgãos de animais sejam
rompidos, se esporas os ceguem, se ossos sejam quebrados. São apenas animais,
dirão alguns. Como se animais não sofressem, não sentissem dor, angústia, medo
e desespero. Maus tratos são encobertos, veterinários se vendem para dar falsos
laudos e afirmar que não há maus tratos.
Segura peão, e vê se cria outro tipo de
diversão, um touro mecânico ou rodeio virtual. Segura peão e deixa em paz o
animal que é manso, pacífico e tem bom coração.
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