(Ivana Maria França de Negri)
Que se lembrasse, desde quando era pouco
mais que um potro, sua vida consistia em puxar carroças com cargas pesadas todo
santo dia. Não tinha folga nem nos feriados e nem nos finais de semana.
Não tivera sorte com o dono, pessoa
grosseira e insensível que não sabia ser amável com as pessoas, muito menos com
animais, e apenas se preocupava em transportar o maior número de cargas por dia
para amealhar mais dinheiro.
Jamais recebera um afago sequer, uma
palavra de carinho que fosse. Mas sempre obedecia humildemente e fazia tudo
direitinho para não desagradar o dono.
Quantas e quantas vezes o carroceiro
esquecia-se de lhe dar água e o deixava salivando de sede sob o sol escaldante,
a garganta seca pela poeira da estrada.
Em certas noites, o homem o deixava com os
arreios, por pura preguiça, atando-o numa árvore longe do pasto.
Incontáveis vezes foi açoitado só porque
o dono estava nervoso com alguma coisa e tinha que descontar em alguém, e
sempre era ele o saco de pancadas.
Enquanto jovem, conseguia suportar as
cargas e trotava velozmente, mesmo nas subidas íngremes para não ser chicoteado.
Mas agora que estava velho e as forças lhe fugiam, não conseguia puxar, como
antigamente, as pesadas cargas morro acima.
Naquele dia seu velho corpo fraquejou e
os joelhos dobraram-se. O dono, fora de si, urrava: “Vamos preguiçoso! Isso é
hora de descansar?” e começou a espancá-lo sem dó e nem piedade.
O chicote zunia no ar e descia estalando
no lombo. E mais e mais chicotadas lanhavam o dorso já gasto e com falhas de
pelos. Não conseguia se levantar, as pernas fraquejavam e dobravam novamente. A
visão turvou, e, exausto, deitou no chão o corpo franzino e judiado. O
carroceiro vendo aquilo, começou a chutar-lhe o rosto e jogou um balde de água
fria em sua face.
Mas já não estava mais ali, seu espírito
abandonara a velha carcaça. Agora sentia-se leve, revigorado.
Conseguia trotar garbosamente e pastava
numa campina muito verde onde havia uma cachoeira de águas límpidas e frescas.
Podia correr livremente, sem arreios, sem freios, sem carroças, sem cargas para
puxar. E sem chicotes!
Via outros animais livres e vigorosos
como ele, trotando e saltitando felizes pelos campos.
Era o paraíso almejado, o céu dos
animais!
Teria agora o merecido descanso por toda
a eternidade...
Quando vemos essas imagens logo nos vem à mente aquela nossa conhecida frase de Leonardo da Vinci -
ResponderExcluir"Chegará o dia em que todo homem conhecerá o íntimo dos animais. Nesse dia, um crime contra um animal será considerado um crime contra a própria humanidade." - proferida há tantos e tantos anos. Quando chegará esse dia?????????? Maria José Soares