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Treinando elefante filhote para atuar em circos |
Ivana Maria França de Negri
Um grito em uníssono ecoou pelos quatro cantos do país e estendeu-se por várias cidades do mundo. Um protesto em nome dos que não podem falar, os animais.
As manifestações aconteceram simultaneamente, orquestradas pela rede social Facebook, a mais poderosa arma da população, que consegue mobilizar milhares de pessoas em poucas horas, espalhando-se por todo o planeta como rastilho de pólvora.
Houve manifestos, passeatas, carreatas, buzinaço, cada cidade deu o ar da graça a sua maneira. Só em São Paulo, o movimento reuniu cerca de 20 mil pessoas em frente ao MASP. Aproximadamente 170 cidades uniram-se na luta pelos direitos dos animais, reivindicando leis mais severas para punir as atrocidades que todo dia fervilham nos noticiários: cão enterrado vivo, arrastado, bezerros com pescoço torcido, animais esfaqueados, queimados ou mortos pelos próprios donos e outros crimes hediondos, frutos da insanidade de alguns.
Além de ONGs e ativistas da proteção animal, artistas emprestaram sua fama e voz para a campanha. Mas a grande maioria era mesmo de cidadãos comuns unidos por um mesmo ideal, cansados de ver a impunidade correndo solta. Listas coletando assinaturas para pressionar o legislativo eram preenchidas rapidamente.
A data, 22 de janeiro de 2012, será um marco histórico nesse tipo de ação. Certamente outras manifestações surgirão, fortalecidas com o sucesso desta primeira.
Os protestos e manifestações aconteceram de forma pacífica, pois o lema eram as palavras do líder pacifista Mahatma Gandhi: “A grandeza de uma nação pode ser avaliada pela maneira como são tratados seus animais”.
Em São Paulo, um pastor, um padre, um espiritualista, um hare-krishna e um rabino, juntos, representaram a Iniciativa das Religiões Unidas. O Reverendo Elias de Andrade destacou que, se não houver a paz, também para os animais, não haverá paz para o mundo, ressaltando que todos os líderes religiosos ali presentes são vegetarianos por questão de coerência.
Nem só os cães e gatos merecem compaixão e respeito, mas todos os seres da criação. Numa alusão aos bois caminhando pacificamente nas ruas da Índia sem serem molestados, ouvi certa vez esta pérola de um conhecido: “quanto churrasco desperdiçado!”. Isso significa que as pessoas enxergam o animal apenas como um produto para ser consumido, não o vêem como um ser vivo senciente.
E existem os mais diversos tipos de tortura a que são submetidos os animais diariamente. Na indústria da carne, uma das mais cruéis, na moda, nas experiências em laboratórios, na indústria da diversão tipo touradas, vaquejadas, circos, rodeios, em sacrifícios religiosos, tudo isso dificilmente cessará de uma hora para outra, porque são hábitos arraigados que precisam ser repensados. Em outros casos envolve muito dinheiro, o que dificulta bastante pela ganância do ser humano.
A cegueira espiritual vai dando lugar à visão sob a luz da misericórdia e compaixão.
É claro que é muito difícil acabar de uma hora para outra com costumes, tradições e eventos culturais enraizados há séculos, mas um primeiro passo foi dado, sementes foram lançadas e os frutos certamente vingarão. O Holocausto animal ainda está longe de ter um fim. A alforria chegará aos poucos para esses inocentes protagonistas da voracidade humana.
Estamos no caminho certo, sensibilizando a sociedade, focando a conscientização e cobrando as autoridades para criação de leis mais abrangentes e punições mais severas, pois penas brandas só favorecem a crueldade.